Um indivíduo que possui transtorno bipolar vai possuir três
estados de humor típicos: Depressivo, eufórico e eutímico. Sendo os dois
primeiros aquilo que se espera de um depressivo/maníaco e o terceiro o estado “normal”.
Escrevo isso aqui como um eutímico.
Gostaria muito de escrever sobre assuntos diversos como
fazia antigamente, ou mesmo de estar dormindo agora, nessa madrugada de
domingo, mas escrevo para... desabafar.
Estranho saber que vivo assim, se não estou pensando no
transtorno eu estou pensando em como seria mais feliz sem ele. Quando era pequeno eu achava que ser bipolar era
algo divertido, diferentes personalidades e isso e aquilo, imaginava algo
cômico, me enganei.
Escrevo bastante sobre esse assunto, pois como disse, só
tenho pensando nisso.
Minha vida sempre foi estranha, sempre me vi como uma sombra
das outras pessoas, tentava ser igual aos outros, brincar e ser criança, mas eu
tinha medo, não conseguia. Passei a escutar que eu era diferente, estranho ou
algum outro termo pejorativo, e da mesma forma comecei a adotar que eu era
estranho pois pessoas normais eram chatas. Esse medo me isolava dos outros e me
impedia de criar amizades.
No fundo nunca quis ser diferente, queria ser normal como os
outros, queria não ter medo de coisas idiotas e nem aquela flutuação de humor
estranha quando era jovem. Eu tinha medo de sair de casa, receio de encontrar
outros que me machucassem como aquele que iniciou isso tudo. Eu me isolei de
todo mundo. Amigos não passavam de uma coisa efêmera que eventualmente iriam me
deixar/serem deixados de lado, não me importava com isso.
Os sintomas começaram, a persona transtornada finalmente
marcava minha mente como uma cicatriz. Tudo fazia mais sentido que antes.
Achava que podia me controlar e viver normalmente com isso.
Um dos primeiros passos é a aceitação, tenho isso bem firme
no meu pensamento... mas como aceitar? Minha infância foi marcada, não
conseguia me divertir ou ser feliz como uma criança devia ser, meu presente é
basicamento a busca por um estado eutímico, um esforço para manter um
tratamento repleto de efeitos adversos que possam me deixar o mínimo “normal”...
Meu futuro? O cérebro de um portador do transtorno não é o mais saudável e nem
o mais “duradouro”. Se olho pra trás eu relembro de coisas que não quero, se
olho pro hoje eu me desespero e o futuro me assusta.
Outra questão é que passei tanto tempo tendo flutuações de
humor e passando grande parte dos últimos anos em depressão que eu realmente
perdi amor a minha própria vida, faz parte não é? Esse transtorno é conhecido
por causar aumento nas taxas de suicídio. Nunca tentei, mas tenho vontade numa
base quase que semanal. Mesmo hoje, pensando de forma “eutímica” eu ainda não
fui capaz de recuperar essa vontade de viver, tudo parece tão sem sentido, uma
busca por algo que nunca vou alcançar. Talvez seja por isso que passei a
procurar tanto um outro alguém que viesse a ocupar meus pensamentos, talvez
possa esquecer um pouco de mim mesmo.
Eu estou preso nisso, não consigo não pensar nessas coisas
ou em outras, dia após dia eu sinto que estou afundando cada vez mais, que sou
incapaz de viver normalmente ou algo do tipo. Eu tenho medo, me sinto perdido
e/ou em desespero em grande parte das vezes, sem saber o que fazer, o que falar
e o que ser. Ainda assim coloco um sorriso no rosto e respondo que está tudo bem
comigo, afinal, esse é um fardo que apenas eu tenho que carregar, mesmo que não
tenha a força pra isso.
Um comentário:
Te entendo totalmente. Você não está só. Tem dias bons e outros nem tanto. Mas devemos seguir em frente.
Tem um texto que gosto bastante : Estou Cansado
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Fique firme!
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