domingo, 9 de junho de 2013

Meh.

Um indivíduo que possui transtorno bipolar vai possuir três estados de humor típicos: Depressivo, eufórico e eutímico. Sendo os dois primeiros aquilo que se espera de um depressivo/maníaco e o terceiro o estado “normal”. Escrevo isso aqui como um eutímico.

Gostaria muito de escrever sobre assuntos diversos como fazia antigamente, ou mesmo de estar dormindo agora, nessa madrugada de domingo, mas escrevo para... desabafar.
Estranho saber que vivo assim, se não estou pensando no transtorno eu estou pensando em como seria mais feliz sem ele.  Quando era pequeno eu achava que ser bipolar era algo divertido, diferentes personalidades e isso e aquilo, imaginava algo cômico, me enganei.

Escrevo bastante sobre esse assunto, pois como disse, só tenho pensando nisso.
Minha vida sempre foi estranha, sempre me vi como uma sombra das outras pessoas, tentava ser igual aos outros, brincar e ser criança, mas eu tinha medo, não conseguia. Passei a escutar que eu era diferente, estranho ou algum outro termo pejorativo, e da mesma forma comecei a adotar que eu era estranho pois pessoas normais eram chatas. Esse medo me isolava dos outros e me impedia de criar amizades.

No fundo nunca quis ser diferente, queria ser normal como os outros, queria não ter medo de coisas idiotas e nem aquela flutuação de humor estranha quando era jovem. Eu tinha medo de sair de casa, receio de encontrar outros que me machucassem como aquele que iniciou isso tudo. Eu me isolei de todo mundo. Amigos não passavam de uma coisa efêmera que eventualmente iriam me deixar/serem deixados de lado, não me importava com isso.

Os sintomas começaram, a persona transtornada finalmente marcava minha mente como uma cicatriz. Tudo fazia mais sentido que antes. Achava que podia me controlar e viver normalmente com isso.
Um dos primeiros passos é a aceitação, tenho isso bem firme no meu pensamento... mas como aceitar? Minha infância foi marcada, não conseguia me divertir ou ser feliz como uma criança devia ser, meu presente é basicamento a busca por um estado eutímico, um esforço para manter um tratamento repleto de efeitos adversos que possam me deixar o mínimo “normal”... Meu futuro? O cérebro de um portador do transtorno não é o mais saudável e nem o mais “duradouro”. Se olho pra trás eu relembro de coisas que não quero, se olho pro hoje eu me desespero e o futuro me assusta.

Outra questão é que passei tanto tempo tendo flutuações de humor e passando grande parte dos últimos anos em depressão que eu realmente perdi amor a minha própria vida, faz parte não é? Esse transtorno é conhecido por causar aumento nas taxas de suicídio. Nunca tentei, mas tenho vontade numa base quase que semanal. Mesmo hoje, pensando de forma “eutímica” eu ainda não fui capaz de recuperar essa vontade de viver, tudo parece tão sem sentido, uma busca por algo que nunca vou alcançar. Talvez seja por isso que passei a procurar tanto um outro alguém que viesse a ocupar meus pensamentos, talvez possa esquecer um pouco de mim mesmo.


Eu estou preso nisso, não consigo não pensar nessas coisas ou em outras, dia após dia eu sinto que estou afundando cada vez mais, que sou incapaz de viver normalmente ou algo do tipo. Eu tenho medo, me sinto perdido e/ou em desespero em grande parte das vezes, sem saber o que fazer, o que falar e o que ser. Ainda assim coloco um sorriso no rosto e respondo que está tudo bem comigo, afinal, esse é um fardo que apenas eu tenho que carregar, mesmo que não tenha a força pra isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Te entendo totalmente. Você não está só. Tem dias bons e outros nem tanto. Mas devemos seguir em frente.
Tem um texto que gosto bastante : Estou Cansado
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Fique firme!